quinta-feira, julho 12, 2007

geleira cucaracha _ cap. 4



É uma manhã calorenta em Cataguazes e finalmente frei Olavo terá que sair da clausura.
Dom Perignon ordenou que manteiga fosse feita e o encarregado de comprar leite do vaqueiro seria impreterivelmente frei Olavo.

“Creemdeuspai! Essa criatura vai criar limo aqui nesse monastério. Oxalá o vaqueiro fosse vaqueira e levasse essa pobre alma pros caminhos tortuosos da carne! Hehehe”, desabafa o pontífice com seus botões de ouro. E dá-lhe sinal da cruz.

Bem a contragosto, frei Olavo sai à rua com suas vestes espartanas, sandalinha de capotão e o cabelinho tigelinha. Desaprendeu a andar sob o sol e não suporta a idéia de ver gente ordinária vestida com roupas ordinárias.
No fundo é um esnobe que teve a sorte de ser abusado em tenra idade e ter a vida toda para se eximir de seus pecados. Mas a mente continua pecaminosa e preconceituosa.

Ao passar em frente ao Bombshell, o famoso puteiro, revirou os olhos e acelerou o passo. Lembrou das histórias que tia Zuzu lhe contava ao pé do ouvido enquanto lhe conferia a fimose lá pelos idos de 1979.
Mas o destino prega peças até no mais cristão dos homens e, bem na hora em que suas sandalinhas de capotão chutavam um pedregulho em direção à placa de “aceitamos pré-datados”, eis que surge das profundezas do inferninho: ela… Julliard Bombshell!

Nota de rodapé: Não. Julliard Bombshell não é puta de jeito maneira. É fina e conceituada demais pra isso.
Coração bom que é, Julliard –aka Julli- veio trazer bombons à sua mestra e gurua espiritual Crystal Ametista que finalmente conseguiu financiar sua operação de mudança de sexo aos 66 anos, muito bem conservados. “Pelo menos não vou ter que dar satisfações aos bofes sobre o porquê eu nunca compro modess no supermercado: pra todos os efeitos, tô na menopausa. Hahaha”, brinca a nova dama do pedaço.

Olavo e Julliard.
As duas almas se chocam num encontrão digno de briga de galo. Não fosse frei, Olavo chamaria a bicha na chincha, mas Julliard não viu nenhum infortúnio no encontro casual.
“Perdão… não a vi saindo pela porta. Machucou?”
“Infelizmente não. Adoro religiosos fundamentalistas que vêm com tudo e nos derrubam e nos destroem e nos deixam em frangalhos!”
“Como é?”
“Brincadeira, fofura. E você, tá bem? A batina não subiu? Tá tudo nos conformes?”

Ao ouvir tais palavras picantes saídas de boquinha tão carnuda, frei Olavo, obviamente, sofre uma ereção.
E olha que, precavido que é, entregou-se ao exercício do onanismo duas vezes antes de sair às ruas já pressentindo as tentações que encontraria pelo caminho.
Isso que ainda nem chegou perto do vaqueiro ou vaqueira ou o que for que lhe dará o leitinho morno.

Fugindo mais rádipo do que freira em saldão de minissaia, frei Olavo retorna ao mosteiro e se tranca em território sagrado mandando às favas o leite, a manteiga e a vaqueira(o).
Ofegante, pega o terço e começa o rosário ali mesmo nos jardins internos da casa de Deus.

“Espere Dom Perignon saber disso!”, ecoa a consciência dentro de sua cabeça cheia de pensamentos pecaminosos.

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